quinta-feira, 24 de julho de 2014

Religião e espiritualidade: alguma diferença?

   
Recentemente, (coisa de uns 10 anos) artigos e vídeos começaram a explodir na internet com conteúdo que execrava a religião, enaltecendo a espiritualidade. É difícil definir com precisão a diferença entre ambos os termos, apenas pela etimologia. Convém entendermos o sentido histórico e só então avaliarmos o peso semântico, seu uso no contexto atual.

     Tradicionalmente, a religião ficou conhecida como "a religação" entre o homem pecador e o Deus Santo. Num sentido cristão, só há uma forma desta "religação" ser processada: por meio do sacrifício vicário e substitutivo, realizado por Jesus Cristo na cruz.


     Na história do cristianismo, o termo "religião" foi usado como "conjunto de crenças e práticas que definiam uma comunidade", em seus relacionamentos com Deus e uns para com os outros. Significava "a intensidade do fiel (ou crente) com respeito a este corpo de crenças". A ela se unia termos como: liturgia, devoção, costumes e hábitos, etc.


     Atualmente, após o desgaste dos termos e o enfraquecimento da instituições,  as expressões estão sendo redefinidas e nem todos estão acompanhando esse processo.


     O cristianismo perdeu muito com a institucionalização da igreja, desde Constantino (século IV) , quando deixou a singeleza e simplicidade dos lares e ganhou as catedrais e as basílicas suntuosas. Nem mesmo a Reforma Protestante  (século XVI) conseguiu um retorno  ao cristianismo primitivo. Resgatou-se a doutrina da "justificação pela fé" e alguns aspectos litúrgicos, mas, no geral, pouco se fez para que o cristianismo se livrasse das amarras do sincretismo e da separação entre clero e laicato e do conceito "templista" de religião.  


     Hoje, com os escândalos protagonizados por padres, pastores e líderes em geral  a religião, entendida como instituição, é vista com suspeita. Cresce o número dos que se definem cristãos/evangélicos, mas sem uma fidelidade a um partido denominacional. Surgiu, finalmente, o que era um "luxo" apenas dos católicos: o "crente nominal".


     Mark Driscoll, conhecido pastor de Chicago - EUA, em sua igreja Mars Hill, é um dos expoentes deste nova "roupagem", não menos institucionalizada, mas que se define como "igreja emergente", ou "alternativa", concebida para os que querem uma vida com Deus, mas detestam religião. Grupos com este tipo de disposição espiritual, estão se multiplicando mundo a fora.


     Alguma diferença? Num sentido tradicional, não. Mas num sentido contextual, deste terceiro milênio, sim. Espiritualidade busca ser compreendida num contexto de intimidade com Deus, de práticas fora das quatro paredes do prédio, erroneamente chamado de "igreja", e de uma devoção simples, despojada, sincera e intensa, no poder do Espírito Santo.

     O termo "religião", passa a ser compreendido como um código de moral e ética, desprovido de significado, confuso, não contextualizado, promotor de preconceitos, competição e que promove ícones humanos ofuscando o brilho daquele que é Único e merecedor de toda honra e glória: Deus.

     Nestas condições, espiritualidade, sim - religião, não.

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