O
pleito eleitoral que acabamos de participar foi bastante acirrado e revelou o desejo do
brasileiro por mudança. Curiosamente, a religião se fez presente como nunca e o
nome de Deus e de Cristo foram fartamente usados. Mais curioso ainda é o fato
de Jesus Cristo ter sido apontado, por alguns, como “de direita” (capitalista)
e por outros, “de esquerda” (socialista). Como assim?
No
cristianismo católico/evangélico a militância ficou polarizada. O Pastor
Ariovaldo Ramos, de confissão Batista, militou ostensivamente em favor da
esquerda. Adepto da linha teológica conhecida como “missão integral da igreja”,
defende a liberdade de Lula e apoia os projetos socialistas dos partidos de
esquerda. Por outro lado, muitos pastores e líderes confessionais
conservadores, se declaram maciçamente a favor da direita. Quem estaria com a
razão? No meio católico, a maioria também optou pela ala conservadora, enquanto
alguns padres deram apoio discreto à esquerda.
Os
socialistas fazem uso de textos bíblicos como a multiplicação dos pães e
peixes (Mt 14) para afirmar que Jesus pensava nas multidões e foi à favor dos
menos favorecidos, citando a conhecida frase do sermão do monte: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque
vosso é o reino de Deus” (Lc 6:20).
Os
conservadores, ligados a direita capitalista, usam a parábola dos talentos
(Mt 25:15 à 30) para afirmar que o capitalismo e a iniciativa privada é o
sistema de governo endossado por Cristo. Quem estaria com a razão? Quem afinal
era Jesus Cristo? Um conservador de direita ou um socialista de esquerda? Isso
é importante para você? Pra mim é, por algumas razões:
Primeiramente
porque a figura pública de Jesus de Nazaré tem sido usada e abusada no
apoio ou desabono de um sistema político mundano, de interesses egoísticos e
disputas partidárias nada santas. O terceiro mandamento de Deus é claro o
suficiente para condenar ambos os lados ao pecado de blasfêmia: “Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em
vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Ex
20:7).
Em
segundo lugar porque nos dias de Jesus não havia capitalismo nem
socialismo. Jesus encarnou e cresceu num país ocupado pelo império romano, onde
se ouvia nas esquinas todos os dias: Rex
Lex ( o rei é a lei). Por outro lado Israel era uma Monarquia Teocrática e
qualquer comparação com os dias atuais esbarra, inexoravelmente, no abismo
histórico-político-social com aquela época.
Por
último, Jesus deixou claro que não estava sujeito a sistemas políticos,
apesar de que muito de suas posturas, mensagens e profecias tiveram repercussão
política, inclusive sua morte e ressurreição. Quando Pilatos mencionou seu
poder político para crucificar Jesus ou soltá-lo, ouviu da boca do Mestre: “Nenhum poder terias tu, se do Céu não te
fosse dado” (Jo 19:11). Jesus desconstrói qualquer ideia de poder político
interferindo no seu destino, traçado soberanamente pelo Pai: a cruz.
Pensando
bem, usar o nome de Cristo ou de Deus na política, para justificar posição
partidária, obter apoio deste ou daquele grupo a fim de vencer um pleito
eleitoral é pecado de blasfêmia e não passará impune diante de Deus.
Respondendo à pergunta: Jesus não foi, nem
socialista, nem capitalista. O Mestre foi enfático ao dizer: “o meu reino não é deste mundo” (Jo 18:36).
Prezado
leitor, não reduza o Cristo da cruz a um mero militante político. Não faça de
Jesus Cristo um simples ícone Espiritualista de imensa “iluminação”. Não o
considere apenas mais um Mestre, Psicólogo ou Líder. Não foi para tais coisas
que Jesus encarnou, viveu, morreu e ressuscitou.