Posso criar minha própria comunidade cristã
com amigos que eu mesmo escolho e “curto”?
Esta
pergunta não faria sentido, se fosse feita a dez ou vinte anos atrás. Mas hoje
é pertinente e exige uma resposta convincente.
Aumenta o número dos que se dizem evangélicos (ou cristãos protestantes) que não “curtem igreja” ou reuniões religiosas. De fato, nestes tempos pós-modernos, as instituições estão sob suspeita, e a igreja, é uma delas.
Aumenta o número dos que se dizem evangélicos (ou cristãos protestantes) que não “curtem igreja” ou reuniões religiosas. De fato, nestes tempos pós-modernos, as instituições estão sob suspeita, e a igreja, é uma delas.
“ – Não preciso ir a igreja
para expressar minha fé”,
dizem, em sua maioria, internautas de linha teológica liberal e
de classe média baixa, para cima.
Por que precisaria de uma
igreja?
Seria a igreja local, com sua liturgia,
clero, templo e doutrinas, um impulso ou um entrave ao desenvolvimento da fé e
da espiritualidade? Cansados dos cultos “aula” ou dos “shows” da fé, inúmeros
membros de igrejas evangélicas (e até católicos), tem optado por uma expressão
mais simples, com grupos de amigos, onde a leitura bíblica, oração e cânticos,
associados a prática de caridade, bastam para satisfazer sua religiosidade
latente. Neste caso, a espiritualidade torna-se algo pessoal, que o individuo
desenvolve por meio de um kit montado por ele mesmo, sem submeter-se a rituais,
horários, deveres e cobranças típicas das instituições.
E aí?
O
que dizer da igreja institucional? Estaria moribunda? Desconectada da
realidade? Vendida ao materialismo? Apóstata? Nas mãos de mercadores da fé? De
coronéis autoritários desprovidos de sentimento?
O
tal movimento dos “sem igreja” seria uma resposta legítima a este abandono dos
princípios que nortearam o cristianismo ao longo dos séculos? Precisamos evitar
a generalização e buscar a essência do que seja o cristianismo ou “comunidades de fé”, cuja âncora seja a Bíblia,
a Palavra de Deus.
A “Igreja” e “as igrejas”.
Primeiramente
é preciso diferenciar “a Igreja” das “igrejas”.
A
Igreja, com “I” maiúsculo, é chamada nos meios acadêmicos de “Igreja Invisível”,
ou seja, núcleo formado por pessoas das mais variadas raças, povos, tribos, línguas
e nações, espalhadas por toda a face da terra, sem cor denominacional, cujo
único ponto em comum talvez seja a experiência do “novo nascimento”. Jesus Cristo não fundou igrejas, mas "a
Igreja", e a chamou de “minha igreja”, que organizada embrionariamente com onze
apóstolos, foi posteriormente desenvolvida por meio de profetas, evangelistas,
pastores e mestres, cuja práxis inclui encontros informais nos lares, reuniões
litúrgicas em locais maiores (ginásios, praças, templos), a prática da
caridade, o discipulado, o batismo, a santa ceia, evangelização e missões.
As igrejas.
Ao
longo dos anos, igrejas foram sendo formadas, reformadas, divididas e subdivididas,
formando assim imensas instituições. A história eclesiástica tem
entendido que “A Igreja” se expressa por meio das “igrejas locais”. Pergunto:
é possível fazer parte "da Igreja" (dita
invisível) e não congregar numa "igreja local"?
Feridos em nome de Deus.
Marilia
de Camargo César escreveu um livro, pela Editora Mundo Cristão, com o mesmo
nome deste subtítulo, onde afirma (ou justifica) a existência de vida cristã
alheia a igreja local com base no que denominou de “abuso espiritual”, ou seja,
feridas provocadas pelo autoritarismo dos que se projetam como líderes detentores
de poder e autoritarismo institucional.
O livro encerra com sua experiência pessoal numa pequena célula, desgarrada de vínculo
com qualquer movimento organizado, se apresentando como alternativa para agregar pessoas cansadas da manipulação
e abuso de líderes que confundiram autoridade espiritual com poder religioso. A
máxima em grupos como estes são as palavras de Jesus: “onde estiverem dois ou mais reunidos em meu nome, aí estarei eu, no
meio deles”.
Uma família de fé.
De fato, a igreja deixada por Cristo, é
uma família de fé, informal, caseira, de liderança plural onde não há pastores no sentido
moderno do termo, e sim irmãos com dons pastorais, evangelísticos, proféticos e
de ensino, que se revezavam promovendo crescimento numérico, desenvolvimento
espiritual e proteção contra heresias. Esse modelo funcionou perfeitamente ao
ponto da igreja sobreviver a séculos sob ataque do gnosticismo, do movimento
judaizante e das mais variadas heresias. No entanto, conforme a humanidade foi
deixando os modelos tribais, passando pelo sistema feudal e adquirindo
contornos organizacionais mais complexos com a revolução industrial e as mais
variadas formas de capitalismo e socialismo, houve necessidade de uma
organização mais adensada o que levou a institucionalização do cristianismo
como religião, surgindo então as denominações e suas estruturas de poder.
Um organismo organizado.
A
Igreja é um organismo vivo, pois sua cabeça é Cristo e sua corporação é formada
de seres humanos renascidos da água e do Espírito. A Igreja é o Corpo de Cristo
na terra, movendo-se no poder do Espírito Santo, cuja finalidade é glorificar a
Deus e propagar sua mensagem a todo o mundo em sua geração. A organização é
fundamental para sua expressão numa sociedade como a nossa. Porém, a
organização não deve sufocar o organismo. Toda organização é bem vinda, desde
que não prejudique a vida orgânica da igreja. Há igrejas em que, a organização,
a hierarquia e a estrutura, não permitem o fluir do Espírito Santo. Antes, faz
com que o poder passe às mãos de líderes imaturos, desprovidos da graça
salvadora de Jesus, que se apegam demasiadamente (ou exageradamente) a
estatutos, regras, regimentos, etc. e deixam de lado os princípios bíblicos que
foram dados por Deus para regular as relações entre os irmãos em fé. Numa
igreja assim, o ar puro fica rarefeito, a graça é substituída pelo legalismo, o
louvor pela música, o kerigma pela preleção, o culto pelo show, o fiel dá lugar
ao cliente (ou adepto) e o Espírito Santo é apagado. Mas a igreja como organismo prevalece sobre a
estrutura humana, dando espaço a informalidade, simplicidade, amor,
misericórdia, profecia (legítima) e o ensino e proclamação das Escrituras, no
poder do Espírito Santo. Dessa forma, jamais será obsoleta. Pelo contrário:
prevalecerá sobre as estruturas humanas e será um refúgio para os filhos de
Deus.
Por que acredito na igreja.
Estou
na igreja de Cristo à mais de trinta anos, e não me vejo fora dela. O tipo de
relacionamento que há entre irmãos em Cristo não tem paralelo em nenhuma
sociedade humana, por mais avançada e evoluída que seja por um simples motivo:
o Espírito da Criação, que mantém vivas todas as coisas e as sustenta com seu
poder, está nela. Ainda não encontrei nada mais belo que o brilho dos olhos de
um novo convertido. Ainda não vi empolgação maior da que existe na vida de um irmão (ã) que está
crescendo na fé. Nada mais poderoso que uma vigília de oração, nem
ousadia maior da que existe no evangelismo pessoal. Não apreciei nada
semelhante a vibração que há no louvor à Deus, nem grandeza maior do que quando
estamos de joelhos na presença do Rei Jesus.
Não
há sobre a face da terra nenhum substituto para o legítimo ministério pastoral,
nem para a oração uns com os outros.
A
Igreja existe a mais de dois mil anos e existirá, se necessário for, mais 10,
50 ou 100 mil, pois onde houver uma alma perdida, com fome e sede de justiça,
haverá um filho de Deus convidando-a para uma reunião cristã.
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